sábado, 22 de dezembro de 2012

O Pai Natal verdadeiro...


Para todos os membros do Clube de Leitura e amigos dos livros, a minha prenda neste Natal é um texto de José Fanha, um senhor que com as suas barbas e ternura lembra mesmo o Pai Natal…

Para todos um Natal doce, quentinho e com tudo aquilo que realmente importa!

Amigas e amigos:

O que eu gostava mesmo era de ser o Pai Natal. O verdadeiro. O autêntico. O que desce pelas chaminés e leva uma prenda a cada menino. E, já agora, a cada adulto.

Sei que já não há chaminés por onde possa escorregar um Pai Natal que se preze. Teria de aprender outros truques para entrar na casa de cada um.

Mas havia de levar prendas daquelas que não são compradas à pressa. Nem precisam de muitos laços e fitas. Prendas com prendas dentro. Das que ficam muito tempo a fazer ninho no coração das pessoas.

Levava sorrisos. Sobretudo sorrisos. Não daqueles que se acendem a medo, de espinhela dobrada, “com licença, faz favor”. Mas sorrisos fortes como os dos homens que são capazes de olhar de frente a vida e dar a volta aos tropeços do destino.

Levava palavras. Palavras escritas devagarinho e com todas as letras. Palavras fraternas e limpas como as pedrinhas que se apanha à beira mar. Cada uma escolhida de propósito para cada pessoa.

Levava livros também. Daqueles que nos oferecem muitas horas de viagens verdadeiras, de alegria, de espanto, de maravilha, de medo, de ternura. Daqueles que nos fazem conhecer outras pessoas, com outros desejos, outras dores e outros sonhos. Livros que nos ajudam a saber que cada um de nós não é o centro do mundo e nos permitem a festa de estender pontes daqui para ali, do nosso peito para o longe do universo.

Talvez não consiga levar-vos tudo isto pessoalmente. Mas segue um abraço dado com toda a força e o desejo de muita luz neste Natal.
                      
 José Fanha


"O que a palavra Natal quis dizer..." de Ana Hatherly

O
que
a pala-
vra Natal
quis dizer é
o que continua
a querer dizer: a
celebração dum nas-
cimento. A celebração
porque um nascimento é
uma afirmação de vida, u-
ma afirmação de continuidade
de vida. O nascimento duma cri-
ança deveria ser sempre ocasião pa-
ra alegria, júbilo, confiança. Mas a pa-
lavra Natal-nascimento, que durante ge-
rações simbolizou o renascer da esperança
da salvação, hoje tem cada vez mais uma con-
trapartida excessivamente dramática, pois hoje,
quantas são as crianças cujo nascimento é símbolo
de esperança e quantas são aquelas cujo nascimento
é símbolo de miséria, decadência, abandono? Para que
nascem as crianças hoje? Quem as faz nascer? Porque as
fazem nascer? Para quê as fazem nascer? Para que mundo?
Para que destino? Para que esperança? Para que lutas? Para que
sofrimentos? A misericórdia divina precisa do apoio dos homens.
Sejamos instrutivos para os que fazem nascer as crianças sem sabe-
rem porquê e impiedosos para os que as fazem nascer para o desespe-
ro e para o terror. Se o culto do Natal é o culto da criança salvadora da es-
pécie, da sociedade e do destino dos homens, então que se cuide da criança cui-
dando do mundo para onde ela é tra-
zida, para o mundo onde ela terá de
viver, para que ela possa ser a conti-
nuada afirmação da vida e da espe-
rança. Não se pode celebrar o sím-
bolo e descurar o seu fundamento.
                                                Ana Hatherly
1971